Quase que Artur, segundo filho de
Murilo Rosa, 42 anos, nasce no dia da entrevista. Mas ele esperou mais
um pouquinho, e chegou ao mundo em 1º de novembro, fazendo, agora, dupla
com o irmão Lucas, 5 anos. E por causa deles a gente vê que o
intérprete do malvado Capitão Élcio, de Salve Jorge, é
bem diferente do personagem. “Ter filhos é a alegria máxima”, define,
com emoção, o ator, apaixonadíssimo e romântico à moda antiga com sua
bela esposa, Fernanda Tavares, 31 anos. Murilo acredita que existam
muitos Élcios por aí, mas ao contrário deste ele preza família, ética e
verdade.
Em
comum com seu personagem de “Salve Jorge”, Murilo Rosa só tem a
determinação: mergulha fundo no universo de cada tipo que interpreta,
mas já se recusou a gravar uma cena de nu gratuito. “Acho que você não
precisa se expor desnecessariamente. Há coisas que satisfazem apenas o
ego do diretor”, diz ele, que é caseiro, amante dos programas em família
e devoto de N.S. de Aparecida.
Como você definiria o Élcio?
Acho que
ele quer tudo que é do Theo (Rodrigo Lombardi). É linha dura, e
acredita ser ‘o cara’. Faz qualquer coisa para conseguir o que acredita
ser dele por direito, sem medir consequências.
Acha que existe muita gente como seu personagem?
Sim, com
certeza. Ele é um espelho de muitas pessoas que estão por aí, e de
situações, também. Porque, na verdade, ninguém é só bom ou só mau. Como
na dramaturgia, não há só bonzinho e vilão. Tento fazê-lo de uma forma
normal: simpático, sedutor… Sinto que as pessoas, às vezes, criam muitas
expectativas por causa de sua preparação. E Élcio é um cara
extremamente preparado, um capitão do exército. O cara mais importante
numa guerra. Recebe ordens do coronel, mas é ele é quem vai pra frente
da batalha. É fisica e emocionalmente preparado, e cheio de atitude.
Diria até que o cavalariano é mais despachado do que os outros, da
Infantaria, da Artilharia. O que define um pouco do meu personagem é o
lema da Cavalaria: “Enquanto houver a sombra de um cavalariano no
horizonte, nunca haverá uma mulher insatisfeita, um copo vazio ou um
cavalo indomado”.
Nossa, mas rola um machismo forte aí…
Totalmente!
(risos) Ele é mulherengo, bebe, faz farra, e não tem medo. Estou
fazendo uma analogia entre o que ele faz e o que ele é. Um cara 100%
atitude. E quando recebe um não, tenta tudo pra reverter aquilo, não
aceita. Se supervaloriza, e faz o que puder para atingir seus os
objetivos.
Então, por que ele se vitimiza, dizendo que o Coronel Nunes (Oscar Magrini) protege o Theo?
Ele se
sente tão preparado, mas tão qualificado pra tudo, que, quando recebe um
não, ou não acontece uma coisa que ele espera,acha que está sendo
injustiçado, que o coronel é baba ovo do Theo. E pensa: ‘Ah, é assim?
Deixa que dou meu jeito de resolver a questão’. Aí é que vem a
semelhança com as pessoas na vida. O que eu queria dizer é que há
pessoas assim.
Isso não é normal… Não acha que alguém assim precisa, no mínimo, de uma boa terapia?
Com
certeza: não é nada normal. É claro que precisava trabalhar tudo isso na
cabeça dele. E o interessante são as nuances de comportamento. Ele é
bem humorado, brinca, é sociável…
Mas ele pode matar pra conseguir o que quer?
Acho que pode, sim, se achar necessário.
Em algum momento da vida os fins justificam os meios?
Para mim, não. Acho bom se arriscar na vida, mas nunca ser mau-caráter, nunca mentir.
Existe a ambição boa?
Claro,
sem ambição você não chega a lugar nenhum. Sem ser desmedida, ela
impulsiona, faz com que a pessoa tenha metas e melhore no que pode e
deve melhorar. Já o Élcio extrapola. E a ambição desmedida pode levar a
uma queda terrível.
Qual o limite da ambição?
Você
deve ter objetivos para sua vida, como crescer profissionalmente, apenas
com seu trabalho, com seu esfoço, apoiado na verdade, na ética. Para
tudo deve haver limites. Se você faz concessões, usa as pessoas para
conseguir o quer, tem ambição de forma desmedida, acaba se perdendo
nisso tudo.
Existem
pessoas que quando querem dizer que gostariam de ter algo de outra sem
parecerem invejosas usam o termo ‘inveja branca’. Você acredita que isso
exista?
Nunca
desejei e nunca desejo o que não é meu. E não gosto dessa palavra:
inveja. Gosto de conquistar. Valorizo minha família, meu trabalho, meu
apartamento… Não quero nada que é do outro.
Mas isso já aconteceu com você?
Entrei
na Globo em 1999, na minissérie Chiquinha Gonzaga – fazendo também um
vilão -, e tinha um salário legal. Na novela seguinte (O Cravo e a Rosa,
em 2000), alguém do elenco ‘brincou’ comigo dizendo que eu poderia
trocar de salário com uma pessoa mais velha, que, pelo jeito, ganhava
menos. Nunca me preocupei com quanto os outros estão ganhando. Às vezes,
existe uma insegurança, mas não o medo do sucesso do outro. Sempre me
policiei pra ser generoso.
Por que o vilão é, geralmente, tão atraente para o público?
Ninguém pode ser uma coisa só. Essa é a complexidade da vida. O
vilão não é politicamente correto. Não tem compromisso com fazer tudo
certinho, se permite incoerências, se desviar do caminho normal.
E como tem sido o assédio. Você sabe que farda sempre provoca um certo frisson nas mulheres…
Estou
impressionado com a repercussão, de um modo geral. Rola um fetiche, sim.
Farda e atitude são sedutoras. No caso do Élcio, ele fica com a mulher
que deseja e tchau. Algumas se interessam por homens assim.
Todo vilão tem que pagar por seus erros?
Acho que nem todos merecem um castigo formal. Achei muito interessante o final da Carminha (Adriana Esteves)em Avenida Brasil.
As pessoas podem mudar ou serem mudadas por alguém?
Tem
gente que nunca muda, no sentido de não rever suas posições, mesmo que
estejam erradas. Se eu quiser mudar alguma coisa, mudo para o bem, para
melhor. Mas um cara que fuma a vida inteira, e não para, dificilmente
alguém conseguirá que ele deixe o cigarro. Você pode mudar se quiser,
talvez durante um tempo, ou numa situação-limite. Mas dificilmente
mudará o outro, se ele não quiser. Como no caso do Élcio – ser um
sedutor e nunca se envolver.
Trair, em todos os sentidos, é comum na vida dele.
Sim, ele
é capaz. Age por impulso, e também articula, quando o assunto é sério.
Mas muitas de suas atitudes não identificam o que ele é.
Você perdoaria uma traição?
Mentir é uma coisa muito séria. Perdoar é difícil. Talvez consiga, mas não 100%. Sempre vai voltar à lembrança o que aconteceu.
Já aconteceu com você?
Alguém
te enganar é muito ruim, né? Uma mentira de uma pessoa próxima… Perdoei,
mas fiquei pensando: ‘Será que não vai acontecer de novo?’. Não me dou
bem com a mentira.
A aparência engana?
A
aparência de como você chega, se mostra, é importante, passa confiança.
Mas a aparência pode te enganar no dia a dia. Se precisar, você dá uma
segunda chance, lembrando que todo mundo pode cometer erros. Até Jesus
teve dúvidas na hora da morte. Mas o grande passo é reconhecer o erro,
ir lá e pedir desculpas.
A pessoa muito boa pode ser boba?
Acho que
sim. Gosto de pessoas puras, simples. Não gosto do tipo metido a
malandro, a esperto. O cara está ferrado, duro, mas faz o esperto, e
sempre quer se dar bem. O Rio é uma cidade de aparências. Não gosto das
pessoas que se aproveitam das outras, as que são boas, puras.
Fiquei aqui pensando… Você entende tanto da hierarquia, das atitudes no quartel. Você serviu o exército?
Não
servi (risos). Eu era atleta de tae-kwon-do e fazia faculdade de
Educação Física,em Brasília. Passeiaté na prova do NPOR (Núcleos de
Preparação de Oficiais da Reserva), fiquei reco, mas… Eu tinha uma
namorada firme, e o pai dela era coronel do Exército, e, por causa da
faculdade, pedi pra ser dispensado. Mas hoje acho que seria interessante
ter feito, pelas noções de hierarquia e disciplina.
HERÓI, VILÃO, GALÃ E O QUE VIER
Na TV você fez pouquíssimos malvados…
É
interessante isso. No cinema faço vários tipos de papéis. Na TV, quase
todos foram heróis românticos, que também são importantes para a
carreira do ator, e têm empatia com o público. Mas tenho vontade de
‘brincar’ com muitos outros tipos.
E sempre mergulha de cabeça na composição de todos?
Eu
procuro, sim. Aprendi a saltar aqui no Rio, mas fiz vários trabalhos nos
quais lidava com cavalos. Aliás, lido com eles há muito tempo: meu pai
tem cavalos,em Goiás. Adorome preparar para todos os tipos de trabalho,
acho que não vou ser convincente se não souber fazer aquilo que o
personagem pede. No filme Orquestra dos Meninos, no qual interpretava um
maestro, quis que ele tivesse uma inclinação, mostrar muito sutilmente
os trejeitos, o uso da batuta…
Você gravaria nu?
Só não
faria se o papel não fosse bacana, interessante, mesmo. Acho que você
não precisa se expor desnecessarimente. Há coisas que estão satisfazendo
apenas o ego do diretor. Já teve um que queria que eu ficasse nu numa
cena de novela, mas me recusei. Não havia necessidade, não aceitei.
Bom, acompanho sua carreira desde o início… Acho que já sei quem foi.
Não, não, você não vai acertar. Nem eu vou dizer (risos).
Você é muito assediado pelo público gay?
Tenho
uma relação de respeito muito grande por ele. Fiz um homossexual, o
Hugo, no filme Como Esquecer (2010), que me deu o prêmio de Melhor Ator
Coadjuvante no Festival de Cinema de Los Angeles, ano passado. Mas os
gays sabem que sou casado, tenho filhos. É mais uma coisa de eles
elogiarem o meu trabalho.
Agora, já as mulheres… Qual foi o caso mais interessante que você se lembra de assédio feminino?
Foi
engraçado. Uma vez, quando estava fazendo o Dinho, em América (2005),
entrei num avião e, quando reparei, todas as aeromoças estavam usando no
lugar da plaquinha com seus nomes no uniforme, uma outra com a
inscrição ‘Viúva Neuta’, a personagem da Eliane Giardini, que era meu
par romântico na novela.
O rótulo de galã é ruim?
Não é
ruim. Gosto de ter uma carreira na qual faça papéis interessantes. E por
que não galãs? Agora estou num filme, com título provisório de Aplauso e
Solidão, fazendo um cantor que é mistura de Fábio Jr. com Luan Santana…
Jesus!
(risos)
Ele tem um pé no interior. É bem bacana. Canto nove músicas, com uma
levadinha country, do poeta e diretor do filme, Alberto Araújo. A ideia é
a cada pré-estreia fazer um show. E vai ter o CD do filme.
Sua
família é de Goiás, você fez vários trabalhos com ‘pé no interior’, mas
sei que tem referências diversas. Por exemplo, os atores que mais
gosta…
Marlon Brando, Daniel Day Lewis, Cate Blanchett e Marianne Basler.
A força, a intensidade e uma certa rebeldia do Brando jovem o atraem?
Gosto muito dele. Um dos meus filmes preferidos é É Um Bonde Chamado Desejo.
SIMPLES, ROMÂNTICO E
A CAMINHO DA ITÁLIA
Você é vaidoso?
Com meus
personagens (risos). Nunca fiz tatuagem, não gosto em mim, e não
consigo imaginar a sensação de ficar com algo marcado para sempre no meu
corpo. Não uso brinco… Eu sei que o ator tem obrigação de se cuidar,
não ser desleixado, mas não consigo seguir muito essas necessidades
estéticas, como passar cremes. Tento usar sempre protetor solar, e ir à
praia antes das 10h ou depois das 15h.
E a sua alimentação? Tem alguma restrição?
Sou um
cara com muito apetite, tenho estômago de avestruz (risos). Tenho que
tentar diminuir as porções. Em casa não se come carne vermelha – a
Fernanda não gosta -, só frango e peixe. Evito gordura e fritura. Mas
como pizza, doce, e, às vezes, tomo um refrigerante zero. Não bebo. Bom,
de vez em quando, uma taça de vinho.
Como é sua malhação?
Quando
tenho tempo dou uma corridinha na orla, mas, duas ou três vezes por
semana, faço ginástica na academia do condomínio onde moro. Sempre fiz
esportes, atividade física, sinto falta quando isso não acontece. Mas a
minha ginástica é mais para estar bem com o meu biotipo. Não gosto de
malhar pesado, usar suplementos. Nada de ser fortão. Quero manter o
corpo ágil para o meu trabalho.
Você ainda pratica esportes?
Tenho facilidade pra qualquer um, mas, com a falta de tempo, raramente jogo tênis e bato uma bolinha.
O que acha das tão em moda lutas do UFC?
Acho que UFC é um evento, jamais será um esporte olímpico. O MMA é uma mistura de lutas, com defeitos em relação às regras.
Não acha muito violento?
São duas pessoas preparadas para aquilo, que sabem o que pode acontecer.
Você e Fernanda não gostam muito de sair, quase não são vistos na noite…
Temos um
esquema mais caseiro. Agora, então, com as crianças… No domingão,
adoramos fazer piquenique numa área que tem no condomínio. É diversão
certa. E estou alugando uma casa em Angra. É legal ir lá, de vez em
quando.
Esse seu lado família é bem acentuado…
Família é a coisa mais importante do mundo!
Foi por isso que você resolveu se casar na mesma igreja que seus avós e seus pais, na cidade de Goiás Velho, em Goiás?
O
casamento é um ritual, muito simbólico pra você: é a sua coragem de
assumir o que deseja. Estávamos procurando um lugar diferente do Rio, e
fui atrás das minhas raízes. A cidade parou. Fomos andando pelas ruas,
com o povo nos acompanhando, até a igreja. E a cerimônia foi linda.
Acha que casamento é pra sempre?
A ideia é
ficar juntos, sim. Mas acho que, se numa relação, não existir mais
amor, ok, as pessoas devem se separar. Muitos casamentos acabam por
falta de coragem, às vezes as pessoas se esquecem da grandeza que são os
filhos, a companheira, e da responsabilidade que é estar numa união
assim. Exige responsabilidade, dedicação, e muito amor, claro.
Você é romântico, né?
Sou (risos).
De fazer o quê? Mandar flores, bilhetes, presentes fora das datas marcadas?
Tudo isso. E de falar as coisas que tenho vontade. Sempre me declaro: é estranho viver na frieza.
Como bom romântico, deve ter muitos sonhos.
Os mais
importantes na minha vida já realizei e estou realizando – minha
família, meu trabalho -, mas sou louco para conhecer a Itália. Quando
terminar a novela vamos pra lá. Quero pegar um carro e rodar por todos
aqueles lugares lindos.
Mas com o Artur pequenininho?
É. Ele vai também (risos).
Você não tem medo de nada?
Tenho: de perder as pessoas que amo. E da morte. Mas não fico pensando nela. E é óbvio que não a quero tão cedo.
Sei que você é religioso…
Sou
católico, mas não praticante. Mas fui à igreja no domingo, depois que o
Artur nasceu, para agradecer a chegada dele, com saúde e muito lindo
(risos). Tenho uma ligação muito forte com Nossa Senhora Aparecida – fiz
o filme Aparecida, a novela A Padroeira, tinha o santinho dela no
chapéu do Dinho, de América. Fiz algumas promessas para ela e fui
atendido. Já visitei várias vezes o Santuário, em Aparecida, para
agradecer. Inclusive, filmei lá dentro, uma cena difícil. Meu personagem
era agnóstico e tinha que xingar a santa. Antes de filmar, pedi
desculpas a ela. Mas ele se convertia no final. Foi emocionante.
O que é a fama pra você?
Ela tem
um lado negativo – às vezes, parece que você está dentro de um BBB 24
horas, e pode aparecer no twitter, no youtube, no facebook a qualquer
hora, sem saber como aconteceu aquilo. Mas também tem o carinho, a
admiração das pessoas. Só digo uma coisa: se você tem problema com fama
não faça televisão (risos).
Entrevista: Simone Magalhães
Fotos: Fco. Patrício
Site: Aguinaldo Silva Digital
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