
Na história, Solano é o único sobrevivente de uma maldição indígena que condena todos os homens de sua família a morrer às margens do rio Araguaia. Determinado a desafiar essa sina, ele se muda para a região, onde luta por melhores condições de vida para a população local. "Existe esse lado galã, mas também tem humor com ironia. É um mocinho com temperamento", sintetizou.
Sua trajetória na TV é marcada por personagens bonzinhos. Agora, em Araguaia, você vive um típico herói romântico. Como fazer para não se repetir? O Solano tem essa coisa politicamente correta, mas acho que ele vem com um humor interessante, um tipo que não é comum nesses heróis românticos e que eu quero representar cada vez mais. Esse é o diferencial. Tenho várias opções de trabalho que não me deixam repetir. Só este ano, estou com quatro lançamentos no cinema com personagens completamente diferentes. Talvez, em uma próxima oportunidade, eu faça um vilão na TV. Tenho vontade. Meu último foi em Chiquinha Gonzaga, há muito tempo. Mas não existe essa história de que vilão é melhor. Por mim, pode ser bom caráter, desde que tenha dramaturgia, complexidade. Isso o Solano tem. É o que importa.
Além desse lado romântico e divertido, seu personagem vai conduzir a trama política da novela. Como é trabalhar com o tema? Araguaia é uma novela das seis que tem humor, leveza, mas também tem coisa séria. O Solano tem ideais que servem como pano de fundo da história. Ele vai reencarnar o espírito do avô e falar sobre a guerrilha. Um tema sério que deveria ser debatido hoje em dia. O Araguaia é um universo ainda desconhecido e acho impressionante poder fazer uma novela mostrando isso. É uma revelação para o público, assim como foi Pantanal e quando começaram a falar da Amazônia.
O que você acha dessa referência que a novela tem em Pantanal? É até uma coisa bacana porque, assim, ganhou ares épicos. A novela traz um pouco do Brasil, essa força do interior que hoje é o que domina o país. O Brasil de agora é o interior, já foi o litoral. São dois mil quilômetros de rio e ainda não é todo mundo que conhece. Acho que esse título, Araguaia, é um gol de placa. Você já lembra de Pantanal, Amazônia. Tem diferença para mim.
Você é nascido em Brasília e sua família é da região Centro-Oeste. Que diferença isso fez na composição? Eu já conhecia o rio Araguaia. Não foi uma novidade tão grande para mim como foi para o resto do elenco. Mas também fiquei 40 dias viajando com a equipe e pesquisei bastante. O tempo que passamos gravando na região foi realmente um momento de felicidade. Essa novela é muito simbólica para mim. Sou apaixonado por animais e meu pai é criador de cavalos. A diversão dele é ver o Canal Rural no sábado à noite, quando todo mundo quer sair. Inclusive, fiz laboratório no Haras com um domador. Fui muito para fazenda quando criança e andava bastante a cavalo. Só que eu era conhecido como o doidinho, montava na chuva, era meio maluco. Completamente diferente do Solano, que trata os animais com muito carinho.
Mas você já tinha uma ligação com animais de outros trabalhos na TV... Sim, temos uma história antiga. Desde Xica da Silva, na Manchete, eu andava a cavalo para caramba. Em Mandacaru, A Padroeira e A Casa das Sete Mulheres, a mesma coisa. Depois fiz um peão, que foi o Dinho de América. Brinco que o Solano é uma mistura do Corte Real, de A Casa das Sete Mulheres, com o Dinho. É um peão, um domador, mas tem esse temperamento gaúcho, de homem que sai pelo mundo desbravando as coisas com muito humor.
Foi necessário aprender mais alguma coisa por conta do Solano? Sou conhecido na peãozada como um bom cavaleiro, mas um pouco ousado, do tipo que o cavalo cai e eu não. Esse personagem é o contrário disso. É um encantador que usa a doma racional, inteligente, e não a bruta. Li o livro O Homem que Ouve Cavalos, do Monty Roberts, um domador americano muito famoso. Ele defende que violência não é resposta. A mensagem que quero passar é essa. A maioria das pessoas no Brasil usa a doma bruta. A gente está em um momento tão bonito, meio ambiente, ecologia, proteção dos animais, que acho que a novela vai falar disso também.
Em 2005, você fez sucesso em América com o peão Dinho, que tinha um lado sensual muito forte. Também espera isso do Solano? O Solano é um personagem que é para seduzir. Vem com essa temperatura, só que com humor. Dá uma quebrada nessa coisa de cara bacana, gente boa e viril. Acho a espontaneidade, o humor, uma forma infalível para a sedução. É igual na vida. Você não vai seduzir uma mulher fazendo caras e bocas. Eu já seduzi a minha, sou casado. Mas o importante é que o personagem não é apenas isso. Ele tem ideais muito maiores.
Depois de 16 anos de TV, o que mais te atraiu no Solano? Esse é o tipo de novela em que dou um bom exemplo com meu personagem. Adoro que o meu filho assista, mesmo com apenas três anos de idade. Tem personagem que a gente pode entender como uma lição de vida. O Solano me dá aula. É um cara com temperamento e acho que precisamos disso. Me identifico com muitas coisas nele: o vigor, a vontade de que as coisas aconteçam e o fato de dormir pouco e fazer muito. É claro que, dentro dessa força toda, também há uma carência por não ter conhecido a mãe e por ter um pai ausente, que toda vez que o encontrava só pedia dinheiro emprestado. Tudo isso deixa ainda mais interessante.
Araguaia - Globo - Segunda a sábado, às 18h.
Muitas versões A carreira no cinema é motivo de orgulho para Murilo Rosa. Especialmente este ano, já que o ator pode ser visto como protagonista de quatro filmes com temáticas bem diferentes. Além de estar em cartaz no longa Como Esquecer, de Malu de Martino, no qual vive um divertido homossexual, ele também interpreta um metalúrgico que vira mendigo em No Olho da Rua, de Rogério Correa da Silva, um camponês nordestino que é abduzido em Área Q, de Gerson Sanginitto, e um empresário mais velho em Aparecida, de Tizuka Yamazaki. "Esse ano, para mim, é muito especial. São muitas emoções ao mesmo tempo", vibrou.
No longa Área Q, uma co-produção entre Brasil e Estados Unidos, Murilo atua ao lado do ator norte-americano Isaiah Washington, mais conhecido como o Dr. Burke do seriado Grey's Anatomy No filme de ficção científica, rodado no Ceará, o camponês interpretado por Murilo volta à Terra com a mesma forma após ter sido abduzido, mas com mensagens de um ser de luz de outro planeta. "A produção foi realizada no Brasil, mas falo inglês na história. Achei que iria ser mais difícil, mas deu certo", comemorou.
Em casa Apesar de ter sido criado no Centro-Oeste do Brasil, Murilo também viajou com a equipe de Araguaia para a região, onde teve contato com a natureza e gravou cenas para a novela. Primeiro, ele passou cinco dias em Mato Grosso fazendo laboratórios e depois foi para Goiás, onde gravou durante cerca de 20 dias. "Fiz apenas duas cenas de dramaturgia, o resto foram takes olhando, beijando e nadando que serão exibidos ao longo da trama", lembrou o ator, que garante não ter nada a reclamar da intensa rotina no Araguaia. "Nadei próximo aos jacarés, conheci índios e pesquei muito. Nem acordar às quatro da manhã todo dia foi um problema", derreteu-se.
Fonte: Terra.
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