
A diretora Tizuka Yamazaki contou que, além de atuar, você ajudou muito no momento em que o Vinicius Franco, que interpreta o Marcos na infância, não conseguia fazer uma cena em que agredia a santa. O que aconteceu exatamente? Como foi esse diálogo com ele?
O trabalho dele é muito bom, especial e fundamental para o desenvolvimento do filme. Ele arrebenta. Mas teve essa cena em que ele teve um pouco de dificuldade de xingar a santa porque havia feito promessa a ela para ganhar o papel no filme. Então, fomos juntos pedir licença a Nossa Senhora Aparecida e rezar juntos. Fizemos também uns exercícios e, a partir daí, ele entendeu que era o personagem que fazia aquilo e fez muito bem.
E como foi a relação com o restante do elenco?
Eu já tinha trabalhado algumas vezes com Bete Mendes, de grande talento e de uma doçura incomparável. Maria Fernanda Cândido é uma estrela de primeiríssimo time merecidamente. Também já havia atuado com Leona Cavalli no teatro, uma atriz excepcional, cult, super parceira. Jonatas, por sua vez, é um estreante no cinema que exibe seu talento na televisão e que vi no musical “Hairspray”. Sou suspeito para falar, pois trabalhei com pessoas raras, com um entrosamento excepcional. Tenho que ressaltar também o empenho da Yurika Yamasaki na direção de arte e na criação do meu envelhecimento. Sem falar na cumplicidade de Gláucia Camargos e Paulo Thiago (produtores do filme), com quem eu já tinha tido o prazer de trabalhar em “Orquestra dos Meninos”.
Você interpretou um gay em ‘Como Esquecer’ e, em ‘Aparecida’, faz um homem sem fé, sem amor e infiel. São personagens distantes da sua realidade e cujas escolhas diferem das suas. Até que ponto é difícil incorporar valores e sentimentos dos quais você não compartilha?
Não tenho problema com isso. Ao fazer os personagens, procuro encontrar uma relação deles comigo, mas as características deles não precisam ser similares às minhas. E isso é muito bacana. Nesses filmes, os personagens não têm nada a ver comigo. Mas eu estou a serviço disso. Quanto mais diferente, melhor, menos pudor você tem de fazer. Isso traz um frescor para o seu trabalho.
Que tipo de pesquisa você fez para realizar estes dois trabalhos? Fiz para todos eles. Para o “Como Esquecer”, ficamos um mês ensaiando e vimos milhões de filmes sobre o assunto. Não nos concentramos na opção sexual do personagem, mas nele como ser humano. No caso, era gay, mas esse não era o foco do filme. Desde o início, quis fazer um personagem que não fosse caricato, mas precisava mostrar que ele era homossexual e, por isso, tinha de fazer alguns trejeitos. Em “Aparecida”, fomos dosando esse amargor do Marcos. Ficamos um mês buscando essa melancolia do personagem. Também tivemos de trabalhar o visual porque, em princípio, eu não poderia ser um homem de meia idade que tem um filho de 20 anos. Então, foram pintados fios brancos no meu cabelo e providenciamos um bigode pesado porque ele é assim por dentro. Além disso, adotei um timbre de voz mais grave e dosei a energia, apesar de Marcos ter momentos explosivos.
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